Ainda o jogo Palmeiras e Santos no domingo.
Ainda o pênalti.
Ainda o juiz, ainda o VAR.
Ainda o juiz do VAR, RODRIGO GUARIZO DO AMARAL.
Ainda para que time ele torce?
Hoje tem o ‘VAR’, ontem tinha os ‘feições’.
A conversa amena deste santista de raiz, com o neto palmeirense, concluímos que houve dúvida no lance sobre ser pênalti ou não. E pela dúvida, me disse o neto: “O VAR chamou e concluiu pelo pênalti”, convertido em gol a favor do Palmeiras.
Na mesa com ele e diante da mãe dele, aparentemente sem time predileto definido, mas por natureza a apoia o filho; e também minha esposa, torcedora do Galo (e o neto), cutuquei a onça com vara curta: “E quem é o VAR?”
O neto foi enfático: “O dono do jogo!” E apoiado, lógico, pela mãe e, claro, claro, pela avó.
Era verdade. Consenti. Não há contra-argumento capaz de se impor a uma decisão do dono. Lembrei da história do dono da bola.
Mas decidi refugar o uso dele por ter exemplo mais convincente de um ‘VAR’ de ontem.
Na década de 60/70, a várzea santista pegava fogo com os campeonatos amadores. Um dos times da época que imperava nos campos do Canal 5 era o EC Flórida. O temido Flórida.
Naquela época, encontrar alguém que aceitasse ‘apitar o jogo’, ser o juiz, era muito difícil, pois o cara precisava ser ‘muito macho’. Assim, nessa guerra futebolística de Santos, havia jogos em que era preciso trocar o juiz uma, duas ou três vezes durante a partida.
Quando mais ninguém aceitava o apito oferecido de mão em mão a quem estivesse mais próximo dele, o pessoal recorria ao ‘VAR’ de então.
O cara era conhecido como ‘feição’. Isso mesmo, apenas ‘feição’. E por que ele, apenas e tão somente ele, aceitava o apito de um jogo emperreado pra caramba?
Porque ele era o ‘VAR’ da época! A decisão dele ali dentro daquele retângulo, mais cheio de mato do que grama, mais buraco do que chão liso, era a voz de Deus. Última palavra. E às vezes era a última palavra mesmo.
Quando tudo parecia perdido no jogo daquele domingo, lá vinha o ‘feição’ do macuco com o apito na mão. Vinha descalço como todos os jogadores da várzea, vestia bermuda curta como todo bom santista e sem camisa, com a correntinha de ouro com crucifixo, sagradamente beijada antes da empreitada.
Hoje, a FPF põe o áudio da calorosa discussão entre ‘juízes-VAR’ sobre o lance, e a gente vê passar nas telas da sala mais de cem vezes a mesma jogada.
Naquela época, o ‘feição’, como juiz, também mostrava suas armas. Na parte de trás do cós da bermuda, bem fiados às costas, quase encobertos, lá estavam dois trezeitões.
A partir daí, o jogo era o melhor daquele domingo.
E o ‘feição’ era meu irmão...
Gege
GILBERTO GONÇALVES
FEIÇÃO
ANTONIO GONÇALVES JUNIOR
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