O CONSUMO NA REGIÃO METROPOLITANA DE CAMPINAS
Valores expressivos são estimados na região de Campinas, onde a quase totalidade das indústrias e muitos serviços e condomínios fazem amplo uso das águas subterrâneas.
As regiões metropolitanas de São Paulo e Campinas têm vivido um sério problema de escassez hídrica, que se agravou nos anos 2013 a 2015 em virtude de um conjunto de fatores que inclu-íram: redução das chuvas no período; falta de uma política de consumo eficiente de água e redução de perdas da rede públi-ca; reduzidos investimentos na busca de novos mananciais para o aumento da oferta segura de água; e ausência de obras de distribuição de água que privilegiem a integração de diferentes sistemas produtores. Tradicionalmente o investimento para suprir a demanda por água em grandes cidades brasileiras é centrado na busca exclusiva de novos mananciais de água superficial, geralmente não se contemplando alternativas importantes, como as águas subterrâneas ou o reúso de água.
No caso particular das bacias hidrográficas, onde se loca-lizam as regiões metropolitanas de São Paulo e Campinas, há reduzidas disponibilidades hídricas naturais para atender a novas demandas. As águas subterrâneas têm sido uma das alternativas impor-tantes que são amplamente usadas para abastecer de forma a complementar o sistema público. Estu-dos têm mostrado que se extraem mais de 10 m3/s, de 12 mil poços privados, o que faz desse recurso o quarto maior manancial de água da Bacia do Alto Tietê (Hirata & Ferreira, 2001; Hirata et al., 2002). (https://www.revistas.usp.br/revusp/article/view/110025/108625).
Chuvas não conseguem repor toda a água consumida do Aquífero Guarani,
alerta estudo da Unesp
O sistema, que atende a mais de 90 milhões de pessoas, está sendo superutilizado em diversas regiões do Estado de São Paulo incluindo as metrotpolitana de Campinas Pesquisadores empregaram isótopos estáveis para desvendar a relação entre águas pluviais e águas subterrâneas no abastecimento das nascentes
Agência FAPESP* (11/10/2024)–José Tadeu Arantes
Estudo conduzido por pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp) mediu a contribuição das águas pluviais e subterrâneas para a manutenção de nascentes e rios na região de Brotas, na porção central do Estado de São Paulo, localizada na sub-bacia do Alto Jacaré-Pepira, onde o abastecimento urbano, a agricultura e o turismo intensivo dependem fortemente dos recursos hídricos. Os resultados, divulgados na revista Isotopes in Environmental and Health Studies, indicam que as chuvas não conseguem repor toda a água do Aquífero Guarani que vem sendo utilizada nas diversas atividades humanas, o que coloca a sustentabilidade do sistema em risco.
Os aquíferos são as maiores fontes de água potável do mundo. E o Guarani é o maior aquífero transfronteiriço – isto é, que se estende pelo subsolo de vários países. Sua área total, de aproximadamente 1 milhão de quilômetros quadrados (km2), abrange trechos no Brasil, no Paraguai, no Uruguai e na Argentina. Dois terços estão no território nacional, alcançando os Estados de Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul..
O Estado de São Paulo consome cerca de 80% da água extraída do Aquífero Guarani no país. Dados de 2010 indicaram um consumo ainda maior, superior a 95%. Poços para abastecimento urbano, em primeiro lugar, e para irrigação agrícola, em segundo, são os principais fatores de redução do conteúdo líquido – o que, no contexto da atual emergência climática, com períodos de seca severa, é algo a ser considerado com muita atenção.
“Monitoramos as nascentes, os rios, os poços e a chuva ao longo de oito anos, no período 2013-2021, utilizando isótopos estáveis de hidrogênio [1H-2H] e oxigênio [16O-18O] como marcadores da origem da água. Constatamos que cerca de 80% do volume de água dessas nascentes é proveniente da descarga de águas subterrâneas do Sistema Aquífero Guarani [SAG]”, conta Didier Gastmans, pesquisador do Centro de Estudos Ambientais (CEA) da Unesp, no campus de Rio Claro, coordenador do Laboratório de Recursos Hídricos e Isótopos Ambientais (Larhia) e um dos autores do artigo.
A homogeneidade das águas subterrâneas indica que o aquífero não é afetado diretamente por efeitos de sazonalidade, sendo essencialmente composto por uma fonte majoritária de água subterrânea com contribuições bem menores da água da chuva. Por outro lado, o rebaixamento do poço durante o período de monitoramento sugere que tenha ocorrido uma redução das taxas de recarga, devido à diminuição dos volumes totais de precipitação e ao aumento da evapotranspiração. Em outras palavras, o montante de água que entra no aquífero por meio da recarga não está sendo suficiente para repor o montante de água que sai do reservatório – o que é altamente preocupante.
“Sempre existiu uma falsa ideia de que todas as áreas de afloramento do Aquífero Guarani fossem também áreas de recarga para as regiões confinadas e mais profundas do aquífero. Mas nosso estudo apontou que a recarga que ocorre nas áreas de afloramento contribui fundamentalmente para a manutenção do sistema hidrológico local, ou seja, para a manutenção dos fluxos dos rios e das descargas das nascentes. As águas subterrâneas que estão sendo hoje superutilizadas nas várias modalidades de consumo humano são, na verdade, bastante antigas. Como a datação com carbono-14 apresenta várias incertezas, realizamos em parceria com a Agência Internacional de Energia Atômica um projeto no qual foi utilizado um outro traçador, um gás nobre, o criptônio-81, que, associado a outro isótopo, o hélio-4, proporciona valores muito precisos de idade. E detectamos idades variando de 2.600 anos, em Pederneiras, até 127 mil anos em Bebedouro, 230 mil anos em Ribeirão Preto e 720 mil anos no Paraná”, conta Gastmans.
O artigo How much rainwater contributes to a spring discharge in the Guarani Aquifer System: insights from stable isotopes and a mass balance model pode ser acessado em: https://www.tandfonline.com/doi/full/10.1080/10256016.2024.2397469]
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